quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sozinho

Edifício de solidão
construido com zelo,
tijolo a tijolo.

Palavras caladas
dentro do coração.
Pensamentos tolos
sem expressão.

Mesmo diante da negativa constante
de um outro alguém em seu espaço,
pouco a pouco vai baixando a guarda
como quem vê a velhice chegar
e o espelho criar rugas, dizer rabugices.

Agora quase quer um amor.
Não! Amor nessa altura já não vem...
Talvez simples companhia discreta
pra tomar uma sopa nos dias frios.

Alguém que ouça seus queixumes
com um sorriso no rosto.
E ao menos diga: "não se preocupe".
Ou talvez: "posso te ajudar?"

Quem suportaria suas manias?
Quem se animaria a fazer presença
na vida que toda a vida foi só ausência?
Nada de filhos, nenhuma grande paixão
ou aventura pra narrar.

Nenhum grande feito em todos aqueles anos.
Apenas um par de chinelos se arrastando pela casa
e intermináveis xícaras de chá na frente da TV.
Sem histórias pra contar. Pior: pra lembrar.

Pra contar se pode inventar alguma.
Mas quando a cabeça pousa no travesseiro
vazia de recordações significativas
não há fantasia que preencha os anos vividos sem vida.

Quase deseja uma companhia.
Ainda que seja para um carteado monótono
ou para usar mais uma xícara,
à espera do sono cada dia mais escasso.

Ainda que seja para que a morte
Não se sinta constrangida de chegar
e não subraí-lo de ninguém.

Um comentário:

  1. Olá Ronaldo tuas palavras também são ótimas, continue
    e venha sempre ao meu cantinho de palavras!
    Um abraço
    Juliana

    ResponderExcluir