segunda-feira, 20 de julho de 2020

Quem sabe?

Cabe tanta coisa num "quem sabe?". Cabe a dúvida eterna de um possível amor; a incerta e sempre adiada visita a um velho amigo; cabe o sonho de uma ou dez graduações, indo desde a agronomia até psicologia; cabe a expectativa de um novo emprego; o desejo de mais um filho ou filha; cabe até a opção pela solidão.
Um "quem sabe?" é uma espécie de reticência eterna, pulsante e covarde. É a sombra do possível que se arrasta atrás do ser curvado e melancólico a caminhar pelo vazio da casa que, no fundo, é a expressão tosca do vazio do próprio ser, escravizado pelo martelar dos segundos implacáveis no relógio empoeirado suspenso na parede.
Um "quem sabe?" é a voz titubeante e débil da não-decisão. É a recusa a se posicionar diante da vida. Vida que não suporta muros para se sentar em cima.
Um "quem sabe?" é a covardia do homem. É o grito de sua alma incapaz de protagonizar a própria vida, preferindo o estúpido lugar de coadjuvante na história alheia.