segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Finados

Hoje é dia de finados. Nossas almas procuram se consolar com a idéia de que as almas de nossos queridos estão "descansando em paz".
Há, num feriado dessa natureza, uma contradição típica do gigantesco paradoxo que é o ser humano. Ainda ontem estávamos chorando a partida de nossos familiares e amigos e hoje, de certa forma, estamos felizes que eles tenham partido. Afinal, isso nos garantiu um feriadão prolongado. Graças à desgraçada partida de cada um que se foi antes que nós, podemos beber nossa cerveja e assar uma picanha dignamente nessa segunda feira ensolarada. Aliás, não deveria estar chovendo? Não havia um consenso entre os nossos ancestrais - aqueles que agora estão do lado de lá - de que Finados é chuva na certa?
De qualquer forma, vamos aqui elevar a todos os nossos finados um agradecimento. Um generoso obrigado por eles terem se ido e garantido a manutenção de nosso descanso prolongado.
O país dos feriados e de indolência agradece à enorme população que hoje habita os cemitérios espalhados por aí. Sou quase tentado a bradar: "Viva os mortos!"
Uma outra contradição que me inquieta: como é que se justifica a manutenção deste e de tantos outros feriados religiosos num país que jura que seu estado é laico?
Coisas do nosso Brasil, "abençoado por Deus e bonito por natureza".
Mas, ainda bem que apesar de todas as suas virtudes naturais, o Brasil ainda não é o Paraíso.
Afinal de contas, se o objetivo de morrer é ir para o Paraíso, os brasileiros não morreriam e, consequentemente, nos veríamos privados de um feriado.
Que loucura!