domingo, 23 de agosto de 2009

Você está aqui

Meu bem,
sua fotografia
está olhando pra mim.

O Drummond que você me deu
está conversando comigo.
Tem um fio do seu cabelo
marcando a primeira página.

Ah, o seu perfume, a sua voz...
o seu beijo vigoroso.
Sua mão roçando o meu rosto...

É... você está aqui... sempre.

Chegou o Domingo

Meia-noite.
O sábado fecha sua porta.
Desaba sobre nós o domingo.

Chegou o domingo da missa,
o domingo da comelança
e da preguiça.

Chegou mas pouca gente viu.
Hoje em dia, pouca gente
vê o domingo chegar.
Quase ninguém o vê passando.

Mas quando ele se vai todos lamentam.

Nossos Momentos

Te amo.
Te espero
sempre.

Nossos momentos
poucos,
profundos, dignos de toda espera
e de tão grande amor.

A noite e a Morte

A grande mão da noite
com anéis- estrelas nos dedos
oculta o mundo.

Mas ele não dorme
nem repousa de leve.
Só os mortos descansam
imóveis e gelados para sempre,
como sinais tenebrosos
de que a vida é curta
e os prazeres, efêmeros.

Ao menos podemos pensar
que a mão da noite
não alcançou nossos mortos;
mas suas alma viajaram,
com as malas cheias de virtudes,
para um paraíso de dia eterno
e luz inextinguível.

Analogia

A chuva que está caindo
é mansa como a conversa da minha amada.

É molhada como o seu beijo.
E fria... como a sua ausência

Lógica

Às vezes parece
inútil amar.
Como, às vezes,
viver parece vão.

Mas, como a gente vai vivendo...
o melhor que se faz é viver amando.

Pranto

Na melancolia desta noite
penso no amor incompreendido
que nos uniu e nos separou
em tão pouco tempo
e tão curta distância.

Caminho pela estrada escura
em busca da esperança natimorta
que embalou meus sonhos.

No céu calmo
cada estrela é um estilhaço
da felicidade fugaz
que escorregou-me por das mãos.

Aqui, no escuro, gemo e choro.
Não haverão de contemplar
minha dor,
aqueles que não compreenderam
meu amor.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Susto

Se você me conhece, por favor,
ma apresente pra mim.
E prove que o espelho mentiu.

Deve ser falso esse prazer
haurido hoje do que ontem eu odiava,
conhecimento seguro de realidades
outrora ignotas.

O amor é uma coisa enorme,
que deixa o coração assim ensimesmado,
petrificado diante do espelho,
conversando com um alguém novo.

Não! Não quero mais provar
que ele é falso.Eu é que não sou mais escorregadio

Dies Domine

Manhã de Domingo.
O vento conversa com as plantas.
O Sol ainda se espreguiça.
A Lua foge de pijamas.

Descansa soberana a lavoura,
enquanto bronzeia grãos soberbos
esperando a colheita.

Dies Domine!
Os homens e os anjos cantam amém.
Menos os homens da cidade,
nervosa e capitalista.

Aqui, na roça, não.
Aqui tem um pouco de moleza,
digestão do churrasco do sábado.
Digestão e ressaca.

Nada que impeça de ouvir missa,
comer macarronada e franguinho caipira.
Tudo em família, claro.

Vicissitudes

O mundo está mudado!
O homem progrediu tanto
que já aceita com naturalidade
até o absurdo...

Dissolvido sobre seu sofá confortável,
adora ao sacrário eletrônico
onde se desfia as misérias de seu gênero.
Esquece de ser fazedor da história, apenas assiste.

Em meia hora - pouco mais - visita o universo.

Assassínios queimadas fome drogas seqüestros falência sexo desemprego
juros Senado Câmara estupros incestos pedofilia psiquiatria contrabando tráfico
escândalo assédio impeachment Casa Branca Casa Rosada Planalto Moscou Cuba Fidel
Che Evo Morales Hugo Chaves Farc Ingid Bettancourt OMS Sinatra Diana Madre Teresa Frei Damião Santa Genoveva Carandiru Candelária Vigário Geral Eldorado dos Carajás Palace II Focker 100 Torres Gêmeas guerras gobalização Nobel Oscar gays lésbicas travestis carnaval copa do mundo olimpíadas Campeonato Brasileiro Primeira Divisão Segunda Divisão Flamengo Fluminense São Paulo Santos Corinthians Palmeiras Pelé Romário Ronaldo Ronaldinho Robinho Kaká João Paulo II Bento XVI Teologia da Libertação Padre Marcelo Padre Antônio Maria Bispo Crivela Bispo Macedo Igreja Universal Bispa Sônia Globo Record Band SBT Rede TV Canal Rural TV Cultura (CULTURA!!) Fernanda Montenegro Paulo Autran Chico Caetano Raul Seixas Mamonas Assassinas caos aéreo acidente da Tam Varig Silvio Santos Raul Gil Faustão Gugu Luciano Huck Xuxa desastre de avião desastre de trem desastre ecológico índio pataxó bala perdida sem-terra sem-teto eleições corrupção mensalão mensalinho fraude impunidade INSS comércio vendas bolsa inflação Dólar Real poupança CDB RDB monopólio Bill Gates Obama Hillary Macainne cinema teatro Glauber polícia salva polícia mata escuta telefônica banqueiro lobista desvio de dinheiro enriquecimento ilícito Criança Esperança Tele Tom Big Brother minissérie novela protagonista coadjuvante celebridade famosos modelos médico salva médico mata pit bull ataca criança na lagoa criança abandonada João Hélio Isabela Nardoni maconha crack cocaína LSD over dose Lei Seca apreensão pirataria privatização bleckaut exoterismo Lula FHC Aécio Alckmin Marta PT PMDB DEM PFL PSDB PPS PSTU PCdoB PSOL MST STJ Ministério Público sertanejo axé funk MPB bossa nova rap samba rock Orkut youtube internet site e-mail blog virtual msn comédia drama suspense Hollywood Oriente Médio Bio-combustíveis crise de alimentos meio-ambiente

“O jantar está servido”
Do alto de sua onipotência
o homem moderno aperta o botão
e vai encher a pança.

Sentado à mesa, solitariamente acompanhado,
devora com prazer e paciência o cadáver de um boi
e faz bigode com a espuma da cerveja.

Da porta de casa pra fora,
o mundo que se vire.

Os homens das cavernas
encantar-se-iam com nossas fortalezas?
Os homens de neandertal
sentiriam orgulho de nós?

Hoje os homens se olham espantados
sem coragem de dizer uns aos outros:
“Vejam só do que fomos capazes!”
Ou quererão dizer:
“Alguém pise no freio, por favor!!”

Noite

Noite.
Paredes brancas dividem o aqui dentro e o lá fora;
Aqui desfila um coração confuso e assustado
Fora um vento teimoso mexe com as árvores

O vento quer secar minhas lágrimas
Mas não poderá dissolver para sempre
A imagem de um certo par de olhos negros.

A mão que ora desliza pelo papel
É o reflexo da alma aflita que comanda
Ambas – mão e alma – carecem outras mãos

Que inda ontem as afagaram
E plantaram esperança.
Mas em seguida desapareceram
Num aceno sem sentido

É difícil aceitar
Que um tão agradável sonho de amor
Se tenha transformado
Numa noite solitária de ventania.

O vento é por demais indiferente
Não me serve de companhia.Meu amor é bem mais exigente

Ausência

A tua ausência é gigantesca
E a presença impertinente da solidão
É a medida do meu sofrimento.

Perdido no mutismo cego da noite
Aguço meus sentidos e ensaio palavras
Tão interiores quanto o meu amor.

Murmuro teu nome como uma prece
O vento frio carrega as sílabas
Para o nada da tua falta.

Apago enfim, a luz, para não mais ver
Minha sombra esparramar-se pelo chão,
Silhueta taciturna entre recordações.

Agora vejo a luz das estrelas e o seu valor
Elas iluminam a noite densa
Assim como a esperança de teu retorno
Clareia a penumbra da minha vida.

Será que a minha ausência
É para ti tão ausência
Quanto a tua o é para mim?

Perdoa-me se meu sofrimento
For sofrimento para ti também.
Se assim for, meu sofrimento será sem fim.

Surpresa

Eu pensei que nada mais sentiria,
que em nada mais pensaria
quando descessem sobre meu corpo frio
a tampa definitiva do caixão.

Mas não foi assim, não.

Eu senti mais, muito mais
que a solidão úmida da casa,
que o cheiro nojento do último jardim,
tão morto quanto eu.

E pensei mais, infinitamente mais,
que a nulidade do meu futuro,
que a impotência dos planos
e a esterilidade dos sonhos.

Senti a vontade desenfreada
de tudo o que permitira que me negassem,
a eclosão insólita (e já inútil) da vida,
o imã de tudo quanto ficou de fora
da minha estreita casa de madeira.

Senti a dolorosa ausência
das mulheres que não amei,
dos carinhos que não ofereci,
das pessoas que não fiz felizes.

Tive vontade dos abraços que não dei,
de molhar as bocas que não beijei,
e oferecer as carícias que recusei,
e receber aquelas das quais me esquivei.

Pensei nas palavras que não falei,
nas canções que não compus,
nos poemas que não escrevi,
nos caminhos que não percorri,
nos amigos que não fiz.

Pensei então que fosse chorar
junto com as lágrimas que pingavam
sobre o telhado impermeável da nova casa.

Mas meus olhos, esbugalhados de espanto,
vidrados da morte irrefutável,
haviam secado para sempre.

Fui parar no purgatório,
pagar o preço da vida que não vivi.

Antítese

Eu não sei
quanto dura a vida,
quando chega a morte.

Eu não sei
quanto é dura a vida,
quando chega de morte.

Eu não sei
se ainda será dura a lida,
se serei vítima do azar ou da sorte.

Eu não sei
se a alma está perdida,
se o diabo é assim tão forte.

Eu não sei
se estou vivendo a vida,
ou apenas esperando a morte.

Eu não sei
se a esperança é bandida,
ou se o sonho tem suporte.

Eu não sei
se estou levando a vida,
ou se ela é meu transporte.

Eu não sei
o tamanho da ferida
que se fez minha consorte.

Eu não sei
se o que dói é a ferida,
ou a demora da morte.

Eu não sei
se encontrei minha querida
ou juntos perdemos o norte.

Eu não sei!