domingo, 28 de junho de 2015

Urgência

O tempo é agora.
A hora é já!
O fazer não espera.
O realizar urge.

Porque o ontem
desvaneceu em meio
a uma poeira fina e débil.
E o amanhã é só um espectro.

Portanto, não espere.
Não adie o amor, o perdão,
o carinho, o aperto de mão.
Não negue hoje.
Não se negue hoje.

Basta um infarto,
uma derrapagem na estrada,
um aneurisma ou
um avião que some do radar.

E o calendário de amanhã
será marcado pelas lágrimas
dos que nos amaram
e não puderam dizer.

Basta um bandido desalmado,
um ataque cardíaco,
um cachorro raivoso
ou um engasgo estúpido.

Você e eu não teremos mais
a chance de significar um para o outro.
Passaremos sem saber
o que teria sido, como teria sido.

A vida é ávida
a respiração pede sustos.
Os olhos mais felizes
são os que choraram emoções vividas.

As memórias só são memórias
para quem não protelou,
para quem entendeu cada segundo de vida
como um instante irrepetível e inalienável.

O tempo não perdoa

quem nada faz dele.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Entrelinhas


Em todas as palavras
Há um silêncio
Um não-lido,
Um não-escrito

Um não-gritado
Que aos poucos
A poesia extravasa
Em forma melódica
Às vezes tórrida.

Em todo gesto
Há um não-demonstrado
Um “tente adivinhar!”
Um “decifra-me ou te ignoro”

A beleza de certas coisas
Nasce do não dito
Do não expresso,
Que parece feio ou grosseiro.

Aí é que entra a poesia
Cantando o que nunca se diz
Melodiando  o que jamais se explica
Revirando as vísceras das entrelinhas.

É isso o que me faz
Amar a poesia.
É isso o que me motiva
A não desistir dela:

Gritar as entrelinhas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Tolice e o Amor

Ao meu redor, todo o espaço inútil
de uma solidão sem sentido.
E um monstro patético abraça-me
enquanto se ri de minha credulidade no amor.

No peito um coração abatido,
consoante minh ‘alma atormentada.
Um querer ilegítimo e absolutamente sedutor
Conduzira-me pela mão até a beira do precipício.

Mas a tolice, inimiga de tantos,
é minha fiel escudeira e evitou-me a queda.
A tolice e o amor, algemas irremovíveis
de meu espírito romântico.

Afinal, só se tem o direito de ser tão tolo
quando se tem consciência da própria tolice.
E isso eu tenho, embora não aprenda nada
nem com a consciência nem com a estultícia.

Faz muito calor na cidade,
Mas dentro de mim o sangue
parece correr gelado e amargo nas veias.

O sol brilha radiante lá no céu.
Contudo, o teto do meu quarto
assemelha-se a um céu sem estrelas.


E sem redenção.