domingo, 12 de fevereiro de 2012

Eu amei

Eu amei.

Sim, esse meu coração
atrofiado, ressabiado,
já foi acordado
pela doce melodia.

Um dia,
numa data perdida
entre o fim da infância
e o início da vida adulta
eu amei ardorosamente.

Essa é a mais pujante lembrança
que me abrirá a consciência
quando eu penetrar a outra vida.
Eu amei inesquecivelmente.

E como todo amante real
eu ri, chorei, suei frio,
senti o corpo se arrepiar e tremer,
o sangue circular forte.

Nem sempre eu fui essa palmeira
solitária na praia de mim mesmo.
Essa palmeira balançada
pelo vento besta do não-amor.

Moderno

Eu li o mundo,
mudo.
Milhões de sílabas
esquecidas.
Não havia vozes capazes de dizê-las.

Eu li, mudo,
às secretas confissões
dos seres silábicos.

Dores de parto sufocadas,
gemidos de agonizantes aplacados.
Todos os relógios do planeta parados
à espera da espera.

E formigas amontoadas
ziguezagueando atônitas,
rindo, sorvendo uma vida
sem vida.

As palavras já não servem,
a poesia não serve,
tampouco a música se aproveita.
A música emudeceu também.

Quem tem olhos para ver, tape-os.