quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ocaso e descaso

Entre as dezenas de justificativas
para se colocar fim a uma história,
você simplesmente escolheu nenhuma.
Foi apenas uma despedida fria e... o silêncio.

Nas memórias dos casais desfeitos,
há sempre para narrar aos amigos
um último olhar, um derradeiro toque,
um beijo melancólico de despedida
ou mesmo uma apocalíptica discussão.

Entre nós, contudo, nada de olhares.
Nenhum toque ou beijo, tampouco um bate-boca.
Sem acusações ou mea-culpa, sem choro ou ironia,
em meio a evasivas você tão somente saiu de cena.

Os bits do ambiente virtual onde nos conhecêramos
foram calmamente carimbando caracteres
até que surgisse, completa e inexorável,
a frase que seus lábios me negaram dizer pessoalmente:
"Sim, estou colocando um fim na nossa história."
"Tchau. Fica com Deus."

Destoando completamente do imenso respeito
que tivemos o tempo todo um pelo outro,
apenas assisti, perplexo, à desconsideração
de sequer poder argumentar ou cobrar uma explicação.


O calor de todos os nossos beijos,
aquele arrepio suave provocado pelos toques de carinho,
o som, ao mesmo tempo firme e doce, da sua voz.
Tudo foi substituído pela secura de um teclado morto.
E o fim descrito como uma sentença no monitor sem alma.

Nos dias seguintes, inutilmente esperei que emergisse
daquela tela luzente uma mensagem nova
que desfizesse o mal entendido.
Ou mesmo uma ligação que dissesse:
"Seu beijo me faz falta!"

O celular e o computador, porém, ficaram inúteis.
Tanto quanto as inúmeras perguntas
que torturam meu pensamento sem descanso.
Como pode decidir sozinha que ficaríamos melhor separados?