sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal

Chega, mais uma vez, a oportunidade de celebrarmos no Natal. Adentramos o século XXI, a sociedade reedita seus valores constantemente e numa velocidade impressionante. Assustadora também é a velocidade com que o planeta renova seus mecanismos de tecnologia. Tudo, cada vez mais, nos chega como novidades espantosas a facilitar a nossa vida, ao mesmo tempo em que uma porção de coisas que simbolizavam o moderno vão ficando obsoletas.

É incontestável que, do século XXI pra cá o mundo passou a conhecer uma revolução científica e tecnológica sem precedentes.

Entretanto, uma imensa massa de pessoas concordam que a evolução moral do ser humano não acompanhou esse ritmo.

É claro que tivemos avanços estupendos no que diz respeiito à convivência entre os povos: já faz tempo que Guerra Fria é apenas expressão dos livros de história, as mulheres conquistaram merecidamente seu espaço na sociedade, ditaduras cruéis caíram, vários índices que apontam as melhorias nas condições de vida da humanidade melhoraram, legislações no sentido de amparar as minorias vão sendo costuradas com mais ou menos bom senso etc.

Então, do que as pessoas reclamam, quando dizem que a evolução do ser humano não foi expressiva?

Isso também se fundamenta em dados muito concretos. Menciono alguns: pipocam mundo afora histórias dramáticas de violência do ser humano conta seu semelhante; índices que apontam corrupção sistêmica em alguns países - Brasil, na liderança - são alarmantes, indicando que os detentores do poder ainda não ligam para as multidões de trabalhadores que confiam seu honesto dinheiro aos cofres públicos, esperando obter retorno adequado em serviços de saúde, segurança pública, educação e transporte; a desigualdade social no planeta todo ainda é gritante, sendo que há ainda hoje milhões (ou bilhões?) de seres vivendo abaixo da linha da pobreza, enquanto há meia dúzia de bilionários usufruindo das benesses do mundo; um grande número de ataques a homossexuais ou negros ou moradores de rua ainda é registrado; a internet, essa ferramenta fantástica que une o ser humano de ponta a ponta do globo, tem visto suas redes sociais infestadas de intolerância, ódio, racismo, preconceito de todas as categorias, seja religioso, de raça, de orientação sexual, preferência política ou desportiva; a violência contra a mulher parece só crescer, os casos de pedofilia não param... Enfim, aos olhos de muitas pessoas, esses são motivos mais do que suficientes para afirmar que o mundo só tem piorado.

Mas, afinal, o que é que o Natal tem a ver com tudo isso?

O Natal, meus caros, apesar de ter se transformado no maior mecanismo de apelo comercial do mundo, é simplesmente a celebração do humilde nascimento daquele Jesus Cristo que veio a este mundo trazer (ou ser, como ele mesmo disse) o caminho para que o ser humano se supere a si mesmo e vença todos os seus males interiores, males que ainda permitem a existência de um quadro de dor e injustiças nesse nosso planeta.

Portanto, o Natal deve ser ocasião de olharmos atentamente, não só para as árvores enfeitadas ou para os presentes distribuídos ou a farta comida à mesa, mas também - e principalmente - para a vida desse nosso Mestre da bondade, do amor, da tolerância, da humildade e de todas as demais virtudes possíveis ao ser humano.

Celebremos, portanto, ao redor de nossas mesas fartas (aqueles que as tem assim), ao pé da nossa árvore decorada. Celebremos, sim, abrindo presentes bonitos.

Mas, sobretudo celebremos com o coração alegre pelo fato de termos um Mestre e Senhor que é o modelo que todos nós podemos seguir se quisermos ser melhores seres humanos.

E eu acho que todos queremos. Ou será que não?


ENTÃO, FELIZ NATAL A TODOS(AS)!!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Encontro



Amor,
Onde encontrar palavras adequadas?
Como exprimir com um mínimo de exatidão,
o que significa teu olha pousado sobre mim?
De que maneira poderia uma poesia retratar
minimamente o que não se enquadra na palavra?

Definitivamente não há como pronunciar toda a ternura
dos nossos corpos dialogando entre si.
Encontramo-nos, enfim.

Tudo em nós ansiava por este encontro.
Nossas almas justapostas,
nossos lábios calados pela eloquência de beijos ardentes,
disseram um ao outro que nos pertencemos desde muitas vidas.

Agora, mesmo quando não está aqui, aqui está,
palpitando em meu peito, entrando e saindo dos meus pulmões,
rosto que eu vejo a todo momento diante de mim, quer abra ou feche os meus olhos.
Porque não há distância entre almas que se uniram pela cumplicidade como as nossas.

Você me perguntou onde eu estava todo esse tempo em que eu vivi longe de sua vida.
Acho que tenho já a resposta: eu estava ensaiando arremedos de felicidade,
preparando meu coração com pequeninas alegrias.
Assim ele tornou-se robusto o bastante para carregar o sentimento gigante que você me traria.

Tudo o que eu vivi até agora, meu amor, foi simplesmente preparação para nosso encontro
aprendendo a ser o melhor que eu posso ser para nós.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

A minha morte

Ontem eu pensei na minha morte.

(Antes de mais nada, acalmem-se, eu não sou um suicida e isso aqui não é uma carta-testamento ou coisa que o valha.)

É sério!

Estudei mil maneiras de escrever isso usando alguns eufemismos. Pensei até em não escrever, afinal eu já escrevi um poema sobre a morte - "Surpresa" é o título - mas não teve jeito.
Porque foi mais que um pensamento, foi uma sensação tão real e viva (que paradoxo!), que eu não poderia deixar de registrar aqui.
Hoje eu pensei, senti e chorei a minha própria morte. E fiz isso sob algumas variadas perspectivas, o que julgo perfeitamente compreensível quando ainda se está vivo.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi o "como" eu morreria. Em instantes eu me vi debruçado sobre o teclado do meu laptop, vítima de um ataque cardíaco fulminante (claro que eu não vou querer sofrer antes da passagem!).
Assim eu fui encontrado: cabeça pousada sobre o laptop aberto. Na tela, logado em uma das minhas redes sociais o início de um texto que eu jamais viria a concluir.
Depois do trauma indescritível de um familiar meu me encontrar cadavérico - cena pela qual eu passei bem rápido, obviamente - passei a fantasiar com muita lucidez como seria cada um dos demais familiares, amigos, ex-namoradas e conhecidos recebendo a notícia do meu desencarne. Eu pude sentir a reação de choque de cada um deles. Era muito real, assustadoramente real!
Nessa hora comecei a chorar compulsivamente. E o mais estranho é que eu não chorava as consequências da minha morte na minha vida - e isso não é um trocadilho! - mas chorava a consequência na vida de cada um deles(as). Foi então que eu quis interromper o pensamento, mas o teatro mental não fechava as cortinas e, em instantes, meu velório estava organizado.
Eu passeava tranquilamente entre as pessoas, completamente consciente de tudo o que se passava, mesmo assim sereno, olhava para meu caixão e ficava ouvindo os lamentos de cada um em particular. Embora nesse momento eu já não chorasse mais, como isso doeu! Sobretudo quando se tratava de minha mãe e de minha irmã.
A todo momento um homem calmo que me acompanhava dizia com sensível educação: "Agora chega, Ronaldo. Vamos embora."
Embora eu não respondesse nada ao homem calmo, ele parecia ler meus pensamentos que diziam: "Não, ainda não! Quero ficar mais um pouco."
Uma pessoa então aproximou-se do caixão e, alisando-me a barba com ternura, disse: "Pena eu não ter conseguido te dizer mais uma vez o quanto te amava! Você foi muito importante na minha vida."
Continuei passeando entre os presentes. O salão estava lotado. Por todos os cantos, as expressões da perplexidade ante uma morte tão repentina e, de certo modo, prematura. Palavras amenas aqui e acolá, contidas manifestações de apreço. Mais na periferia do salão, especulações sobre a causa da morte, descrições as mais fantasiosas sobre como minha mãe me teria encontrado morto em meu quarto. Mais adiante, claro, algumas anedotas e conversas sobre corrupção no governo, a política de juros, o preço do café, a novela das nove etc. Afinal, velório é velório...
Numa cena derradeira, meu caixão descendo à sepultura em meio a lamentos incontáveis. Parentes meneando a cabeça inconformados. Uns pensando: "como pode ter ido tão cedo. Nem um filho ele deixou!" Outros conjecturavam: "Lá se vai, sem ter pago nenhuma das suas dívidas. Acabou se safando!"
Antes que o cemitério se esvaziasse e eu começasse o processo de ser pouco a pouco esquecido pela grande maioria dos presentes, o sereno homem de branco mais uma vez instou a que fôssemos embora e eu anui não menos calmamente.

Assim foi o filme que se passou na minha mente na tarde de ontem. Pena eu não ter conseguido assistir o desenrolar de minha penetração no mundo espiritual.

domingo, 28 de agosto de 2011

Versos cheios

Pobre homem
este que adentra meu quarto
arrastando chinelos e angústias
e cujo silêncio tornou-se comum.

Sufocados seus amores,
estancadas injustas lágrimas,
senta-se à velha escrivaninha
à espera de um verso que lave sua alma.

Pobre homem, à beira dos quarenta,
um coração de velho batendo no peito.
Mas ele não se lembra bem
deter vivido sonhos de criança.

Recorda-se somente de ter vivido meses
na casa da felicidade,
de onde saiu aflito, pisando duro,
e deixando alguém a chorar.

Pobre homem mudo
a quem a vida parece grande demais.
Onde estão seus amigos?
Seus amores, cadê?

Pobre homem de versos cheios
e vida vazia.

domingo, 21 de agosto de 2011

Nada Sei

Existe uma frase muito comum nas páginas das redes sociais, que diz o seguinte: "Quando a gente acha que sabe todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas".

Parece, de fato, uma excelente frase de efeito. Mas ela tem assumido uma dimensão muito real na minha vida, diante de circunstâncias que tenho vivido ultimamente.

Bem próximo dos meus 37 anos de idade, depois de ter vivido algumas experiências no âmbito da religião e tantas outras no que tange relacionamentos afetivos, sinto-me estranhamente perdido, com a sensação exata de que tudo o que eu pensava saber sobre mim mesmo ou sobre a vida não tem consistência, é uma ilusão que eu criei para alimentar meu ego.

E pior que a sensação de que nada sei, é um certo desespero de não saber também como agir.

Tenho, nesse momento, a exata noção de que preciso rever muitos de meus conceitos, romper com paradigmas, começar a reescrever minha história. Mas não estou sabendo como começar isso.

Confesso minha ignorância a respeito de muitos aspectos de mim mesmo. E dói-me enxergar que tal ignorância, além de frear a minha evolução, feriu pessoas que conviviam comigo enquanto eu achava que estava absolutamente seguro. Eutransformei essa pseudo-segurança em prepotência, arrogância e insensibilidade. Isso fez-me perder a possibilidade de harmonia com a pessoa que, sem dúvida, mais me amou nessa vida e a mim se dedicou com desprendimento.

Agora, num momento em que a solidão penetra o mais íntimo de mim, aborvido por elucubrações as mais diversas, tenho medo, muito medo.

Antes de mais nada, medo da própria solidão. Medo dessa falta que me faz uma mão que segure a minha com carinho e paciência. Medo do tamanho da tarefa que vejo não diante de mim, mas dentro de mim.

Felizmente, coabitando com o medo, há em mim uma brisa de esperança. Essa esperança me diz que é possível, que há um pouco de luz.

Assim espero e peço a Deus que me ajude, de fato, a realizar a tarefa de me reconstruir.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Não vale a pena

Estou longe,
muito longe de minha terra.
Não falo de minha terra natal,
lugar físico onde eu nasci
para viver essa experiência corporal.

Estou longe da terra que sou eu mesmo,
como que vivendo uma experiência de nulidade
e, relação à minha essência verdadeira: o amor.

Em labirintos atordoantes
venho caminhando.
A boca sedenta, o coração acelerado.

A cada curva a certeza de que encontrei
uma felicidade preparada para mim desde sempre.
Mas tudo são miragens, talvez construções mentais.

O que eu quero não existe!
Está por ser feito, carece de laborioso empenho.
E minha mente diz sem cessar: "Não vale a pena!"


quinta-feira, 10 de março de 2011

Enquanto o poeta escreve...

Estou surpreso.
Acesso meu blog e constato que minha última postagem data de 11 de dezembro do ano passado, dia de meu aniversário.
Minha surpresa se justifica porque escrever sempre fora vital pra mim. Sobretudo escrever poesia.
Lembro-me de épocas em que tudo me inspirava, me aguçava. Certa vez, durante um dia atribulado de trabalho, sentei-me no ponto de ônibus para esperar a condução e o barulho da avenida me inspirou um simpático poema.
Ah, bons tempos aqueles em que tudo era material e motivo para eu pegar a caneta e enfileirar palavras, construir idéias e, quase sempre, no final maravilhar-me delas. Um drama pessoal, uma notícia de jornal, uma paisagem. Tudo despertava-me o desejo de fazer poesia. Confesso, inclusive, que deixei passar muitas dessas ocasiões, ora por estar em lugar inapropriado, ora por não dispor no momento de papel e caneta. Que arrependimento!
Hoje, estou seco. Sinto-me frio, meio que refratário às inspirações que tentam se aproximar. Temas que antes mexiam comigo, hoje passam ao largo da minha percepção ou de meu interesse.
Sempre apreciei falar e escrever sobre política e os temas sociais que a ela estão subordinados.
Desanimei.
Como falar de política num país onde tão raras vozes se erguem para defender o povo - principal foco da boa política - , enquanto nossos nobres parlamentares se concedem a si mesmos mais de 60% de aumento dos já polpudos salários? Pior: logo em seguida, aprovam com grande adesão um reajuste ridículo para o salário do povo - o mínimo. Reajuste que, segundo ouvi de um economista, não repõe sequer as perdas inflacionárias do ano passado.
Eu também gostava de falar de amor, de romantismo... e coisas afins. Entretanto, estou bem mais propenso a viver um amor do que a escrever sobre ele. Mais do que palavras ou canções bonitas, prefiro cultivar meu romantismo no cuidado diário. É incrível como nas coisas mais simples da vida a gente consegue cuidar bem da pessoa amada. Deois de um longo e cansativo dia de trabalho, se oferecer pra cozinhar pra ela e deixá-la descansar no sofá enquanto assiste a novela, ou se oferecer pra lavar a louça depois que ela gastou boa parte do tempo cozinhando. Esses e outros cuidados tão simples de cuidado e carinho falam mais que as mais tocantes palavras de amor.
Além do mais, muitas das minhas poesias de amor de outrora falavam de frustrações, de solidão, de coisas não realizadas, separações.
Assim, ainda que eu sinta falta de escrever sobre o amor, nesse tema estou mais reconfortado, porque, se não estou escrevendo, estou vivendo intensamente.
Outro tema que me instiga bastante é religião. Desde muito cedo eu gosto de tratar de religião, espiritualidade, temas transcedentais.
Por outro lado, é um tema pouco recorrente na minha poesia.
Ademais, desde que optei por mergulhar na doutrina espírita, nela encontrei bases seguras sobre as quais construir minha evolução espiritual. O espiritismo tem me ensinado, dia a dia, as razões da minha fé e tem me mostrado que o Evangelho é uma ferramenta potente de transformação íntima.
Claro que tenho um desejo ardente de escrever sobre espiritismo. Mas ainda não chegou a minha hora. Estou no tempo de ler, de apreender. E o que não falta são livros! Além das obras básicas da doutrina, codificadas por Kardec, uma infinidade de autores e temas há para serem explorados, debatidos e compreendidos. De minha parte ainda não possuo autoridade moral, tampouco profundidade doutrinária para me meter a escrever sobre espiritismo.
Como se vê, acabo eu mesmo de entender a razão pela qual eu tenho escrito tão pouco.
Certa vez eu disse o seguinte: "Enquanto o poeta escreve, as pessoas vivem". Tal frase refletia uma época em que eu vivia mergulhado em angústias, depressão e medo. Uma fase em que eu andava escondido do mundo, e sofria por achar que estava à margem da vida, incapaz de encontrar nela as alegrias que as pessoas à volta demosntravam.
Pois bem, agora o poeta também vive. E dessa vivência, certamente há de nascer uma poesia mais sólida, a seu tempo.