sábado, 31 de janeiro de 2015

Entrelinhas


Em todas as palavras
Há um silêncio
Um não-lido,
Um não-escrito

Um não-gritado
Que aos poucos
A poesia extravasa
Em forma melódica
Às vezes tórrida.

Em todo gesto
Há um não-demonstrado
Um “tente adivinhar!”
Um “decifra-me ou te ignoro”

A beleza de certas coisas
Nasce do não dito
Do não expresso,
Que parece feio ou grosseiro.

Aí é que entra a poesia
Cantando o que nunca se diz
Melodiando  o que jamais se explica
Revirando as vísceras das entrelinhas.

É isso o que me faz
Amar a poesia.
É isso o que me motiva
A não desistir dela:

Gritar as entrelinhas.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

A Tolice e o Amor

Ao meu redor, todo o espaço inútil
de uma solidão sem sentido.
E um monstro patético abraça-me
enquanto se ri de minha credulidade no amor.

No peito um coração abatido,
consoante minh ‘alma atormentada.
Um querer ilegítimo e absolutamente sedutor
Conduzira-me pela mão até a beira do precipício.

Mas a tolice, inimiga de tantos,
é minha fiel escudeira e evitou-me a queda.
A tolice e o amor, algemas irremovíveis
de meu espírito romântico.

Afinal, só se tem o direito de ser tão tolo
quando se tem consciência da própria tolice.
E isso eu tenho, embora não aprenda nada
nem com a consciência nem com a estultícia.

Faz muito calor na cidade,
Mas dentro de mim o sangue
parece correr gelado e amargo nas veias.

O sol brilha radiante lá no céu.
Contudo, o teto do meu quarto
assemelha-se a um céu sem estrelas.


E sem redenção.