quinta-feira, 10 de março de 2011

Enquanto o poeta escreve...

Estou surpreso.
Acesso meu blog e constato que minha última postagem data de 11 de dezembro do ano passado, dia de meu aniversário.
Minha surpresa se justifica porque escrever sempre fora vital pra mim. Sobretudo escrever poesia.
Lembro-me de épocas em que tudo me inspirava, me aguçava. Certa vez, durante um dia atribulado de trabalho, sentei-me no ponto de ônibus para esperar a condução e o barulho da avenida me inspirou um simpático poema.
Ah, bons tempos aqueles em que tudo era material e motivo para eu pegar a caneta e enfileirar palavras, construir idéias e, quase sempre, no final maravilhar-me delas. Um drama pessoal, uma notícia de jornal, uma paisagem. Tudo despertava-me o desejo de fazer poesia. Confesso, inclusive, que deixei passar muitas dessas ocasiões, ora por estar em lugar inapropriado, ora por não dispor no momento de papel e caneta. Que arrependimento!
Hoje, estou seco. Sinto-me frio, meio que refratário às inspirações que tentam se aproximar. Temas que antes mexiam comigo, hoje passam ao largo da minha percepção ou de meu interesse.
Sempre apreciei falar e escrever sobre política e os temas sociais que a ela estão subordinados.
Desanimei.
Como falar de política num país onde tão raras vozes se erguem para defender o povo - principal foco da boa política - , enquanto nossos nobres parlamentares se concedem a si mesmos mais de 60% de aumento dos já polpudos salários? Pior: logo em seguida, aprovam com grande adesão um reajuste ridículo para o salário do povo - o mínimo. Reajuste que, segundo ouvi de um economista, não repõe sequer as perdas inflacionárias do ano passado.
Eu também gostava de falar de amor, de romantismo... e coisas afins. Entretanto, estou bem mais propenso a viver um amor do que a escrever sobre ele. Mais do que palavras ou canções bonitas, prefiro cultivar meu romantismo no cuidado diário. É incrível como nas coisas mais simples da vida a gente consegue cuidar bem da pessoa amada. Deois de um longo e cansativo dia de trabalho, se oferecer pra cozinhar pra ela e deixá-la descansar no sofá enquanto assiste a novela, ou se oferecer pra lavar a louça depois que ela gastou boa parte do tempo cozinhando. Esses e outros cuidados tão simples de cuidado e carinho falam mais que as mais tocantes palavras de amor.
Além do mais, muitas das minhas poesias de amor de outrora falavam de frustrações, de solidão, de coisas não realizadas, separações.
Assim, ainda que eu sinta falta de escrever sobre o amor, nesse tema estou mais reconfortado, porque, se não estou escrevendo, estou vivendo intensamente.
Outro tema que me instiga bastante é religião. Desde muito cedo eu gosto de tratar de religião, espiritualidade, temas transcedentais.
Por outro lado, é um tema pouco recorrente na minha poesia.
Ademais, desde que optei por mergulhar na doutrina espírita, nela encontrei bases seguras sobre as quais construir minha evolução espiritual. O espiritismo tem me ensinado, dia a dia, as razões da minha fé e tem me mostrado que o Evangelho é uma ferramenta potente de transformação íntima.
Claro que tenho um desejo ardente de escrever sobre espiritismo. Mas ainda não chegou a minha hora. Estou no tempo de ler, de apreender. E o que não falta são livros! Além das obras básicas da doutrina, codificadas por Kardec, uma infinidade de autores e temas há para serem explorados, debatidos e compreendidos. De minha parte ainda não possuo autoridade moral, tampouco profundidade doutrinária para me meter a escrever sobre espiritismo.
Como se vê, acabo eu mesmo de entender a razão pela qual eu tenho escrito tão pouco.
Certa vez eu disse o seguinte: "Enquanto o poeta escreve, as pessoas vivem". Tal frase refletia uma época em que eu vivia mergulhado em angústias, depressão e medo. Uma fase em que eu andava escondido do mundo, e sofria por achar que estava à margem da vida, incapaz de encontrar nela as alegrias que as pessoas à volta demosntravam.
Pois bem, agora o poeta também vive. E dessa vivência, certamente há de nascer uma poesia mais sólida, a seu tempo.

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