segunda-feira, 23 de agosto de 2010

De como e porque

Minha poesia
nasce do escuro
da noite,
do silêncio da dor
sem ais.
Nasce do peito explodido
que mil estilhaços
atirou pela janela
velha do quarto.
Sai chamando Drummond
pelos campos,
pelas ruas
e amando mulheres:
uma por mês.
Minha poesia desalentada,
sem adorno
nem alegria,
poesia sem nada
pra dizer tudo
com um grito abafado pelo pranto
que chora desditas
de vidas sobrevividas
mundo afora
mundo adentro.
Nasce do ventre,
da entranha
em direção à Lua,
ao mar e à alma tua.
Minha poesia
nasce caótica,
sem prumo,
qual tiro no escuro.
Em cima do muro,
como se eu fosse puro.
Sai sangrando,
expondo
na ânsia de ocultar,
hemorragia de desejos
mutilados.
Sai vomitando desilusões,
dizendo que a vida,
que a vida é não.
Porque a vida é
a negação diuturna da morte,
que se vive resignadamente.
Depois minha poesia volta cansada
e recolhe-se em mim,
amedrontada
diante do tamanho da obra.

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