sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Homossexualidade

Poucos assuntos são tão controversos na nossa sociedade, poucos tão propensos a estabelecer tabus. E poucos são tão reveladores da hipocrisia humana quanto a homossexualidade.

Quase todos nós já presenciamos (ou participamos) de conversinhas secretas sobre um colega de trabalho gay, uma colega assim... “meio sapata”. Há um escarnecimento geral quando uma dessas pessoas passa a fazer parte da equipe de trabalho na empresa, quando entra pra nossa turma na escola ou quando é um primo meio distante ou uma prima que sempre aparece no Natal etc.

Piadinhas, trocadilhos, humilhações veladas, um tratamento ora frio demais, ora acolhedor em excesso – quando a consciência acende a luz amarela de “estou sendo preconceituoso e isso é feio e está fora de moda. O fato é que nenhum ou nenhuma homossexual passa incólume pela convivência conosco, que nos consideramos “normais”.

De um modo geral, atiramos todos(as) eles(as) na vala comum da promiscuidade. O cara pode ser um talento nas finanças da empresa, mas “ele é gay” e sabe como é, né... A moça fala bem pra caramba, tem uma liderança incrível e ainda ajuda no departamento pessoal, mas... alguém disse que viram ela beijando uma mulher na boate, e além de tudo, com aquela voz grossa... sei lá...

Resumindo, a pessoa pode ter um talento incrível, ser honesta ao extremo, íntegra, batalhadora, responsável etc, etc, etc, se é homossexual, cuidado com ela: é depravada, leva uma vida paralela, é suja, não merece conviver conosco, que somos “pessoas normais”. Tudo o que povoa a mente humana referente ao tema “promiscuidade” me faz rotular aquela pessoa como segundo escalão humano, menos digna que eu e meus amigos.

Pode haver algo mais hipócrita em nosso meio?

Sim, porque se o cara é competente na empresa e ainda vai pro motel comer a secretária no fim do expediente, ele é perfeito. As rodinhas de conversas sobre ele o exaltam, os olhos brilham ao comentar a capacidade do cara de ser tão cafajeste e se dar bem com a secretária gostosa enquanto a mulher dele espera em casa com o jantar na mesa. “Cara! Ele tá comendo aquela secretária gostosona que começou aqui no mês passado!” “O cara é dez!” Ele vira o herói da turma do escritório.

Se a moça, além de ser bilíngüe, ter pós graduação em gestão de pessoas e elaborar memorandos magnificamente, ainda transa com o chefe do departamento, ela é aplaudida.

Nesses casos o filtro da promiscuidade é desligado.

Aliás, em se tratando de promiscuidade, vou mais longe e pergunto: quem é mais promíscuo: o cara que paga uma garota de programa pra ter um sexo mais quente, pra fazer aquela boquete ou o sexo anal a que a mulher dele se recusa terminantemente, ou aquele sujeito discreto, que vive um relacionamento estável e respeitoso, fiel ao seu parceiro, companheiro em todas as circunstâncias?

É muito curioso que nós heteros admitamos sentir asco quando nos passa pela cabeça a imagem de duas mulheres transando ou de dois homens se acariciando. Há dados sobremaneira reveladores da mentira dessa afirmação.

Cito como indicativo, apenas uma das versões do vídeo que mostra a cantora Daniela Mércury beijando sua bailarina no palco soma mais de quinhentas e sessenta e seis mil exibições. E eu creio que não foram apenas homossexuais que clicaram lá pra assistir. Até porque suspeito que gay que é gay não fica assistindo beijo gay. Vai lá e beija.

Todos sabemos que a grande maioria dos homens tem uma fantasia com duas mulheres transando.

Só que essas manifestações são politicamente incorretas e vão todas para o gueto da nossa vida íntima, assim como insistimos em atirar no gueto da vida social os(as) homossexuais que estão entre nós.

Já é hora de pararmos com isso!

Há uma legião de homens e mulheres de bem, tão dignos quanto qualquer cidadão ou cidadã heterossexual, que vivem entre nós, mantendo relacionamentos baseados em princípios sólidos, respeito, amor sincero e fidelidade (suspeito que os gays sejam muito mais fiéis que os heteros).

Eles e elas estão aí, se movimentando dentro da nossa sociedade, trabalhando, fazendo arte, dirigindo religiões, cursando faculdades, gerindo órgãos públicos e empresas, tentando levar a sua vida de cabeça erguida e com a dignidade que todos nós merecemos e reinvindicamos.

Chega de hipocrisia.

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