terça-feira, 10 de setembro de 2024

ENTRE O RISO E O CHORO

 Entre o riso e o choro

cabe todo o universo.

Cabem cinquenta mil tons

de emoções, gozos e dores.


Entre o riso e o choro

cabe a ternura do berço;

cabe a angústia do esquife.


Entre o riso e o choro

cabem as acnes do adolescente;

cabem as rugas do idoso.


Entre o riso e o choro

cabe a festa das núpcias;

cabe a audiência do divórcio.


Entre o riso e o choro

cabem os vigorosos goles da cachaça;

cabem os amargos remédios da cirrose.


Entre o riso e o choro

cabem os amorosos conselhos dos pais;

cabem as inconsequências da teimosia dos filhos.


Entre o riso e o choro

cabem os abraços dos amigos;

cabem as porradas dos inimigos.


Entre o riso e o choro

cabem os amores aconchegantes e sóbrios;

cabem as aventuras tórridas e loucas.


Entre o riso e o choro

cabem as orientações do professor;

cabem as broncas homéricas do chefe.


Entre o riso e o choro

cabem todas as nossas incoerências;

cabem todas as nossas lógicas.


Entre o riso e o choro

cabem as noites de farra;

cabem os dias de luta.


Entre o riso e o choro

agem as mãos alvissareiras do obstetra;

agem as mãos funestas do legista.


Entre o riso e o choro

cabe a meiguice da prece;

cabe a aspereza do palavrão.


Entre o riso e o choro

cabe o enlevo do beijo;

cabe a secura do tapa.


Entre o riso e o choro

cabe a primavera de um "eu te amo";

cabe o outono de um "desapareça da minha frente".


Entre o riso e o choro

cabem os sinos da fé contrita;

cabe a inflexão do ateísmo declarado.


Entre o riso e o choro

cabem o lar e o boteco;

cabem a igreja e o meretrício;

cabem a ordem e a anarquia;

cabem o grito e o silêncio;

cabem a dor e o prazer;

cabem o tesão e a impotência.


Entre o riso e o choro

cabem o eterno e o finito;

cabem a sabedoria e a estupidez;

cabem a poesia e a prosa;

cabem o sagrado e o profano.


Enfim...

Entre o riso e o choro

cabe a esperança de TUDO,

tanto quanto o abismo do NADA.



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