Geme minh'alma desde há muito
premida , torturada e abusada
em todas as suas dobras e desdobras
pelo mais temível dos algozes: a solidão.
Em vão vasculho memórias -
até mesmo de vidas outrora vividas -
que revelem tão cruel crime possa eu ter perpetrado
a ponto de, na infausta hora presente, ser condenado
ao suplício do não-amar e não ser querido.
Com que habilidade terei eu me doutorado,
nas encarnações pretéritas,
na controversa arte de desperdiçar amigos,
tanto quanto na incompetência para cultivar amores?
Dia após dia, esforço-me por aprender a lidar
com esse maldito silêncio em casa.
Silêncio de não ouvir esposa dizendo "meu bem"
nem crianças vivazes gritando "papai!"
Sejam quentes, frios ou chuvosos os dias,
sigo vitimado pela sede brutal, jamais saciada
por sequer um afeto sincero.
Numa sinistra e extenuante rotina,
assisto calmamente meus dias se esvaírem,
e vou me resignando em ver minha carcaça envelhecer,
meus cabelos branquearem e a virilidade titubear.
Resta saber quanto será a duração desta pena.
Dolorida ao mesmo tempo há uma resignação incômoda
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